Um grande senso de responsabilidade tomou os instrutores e alunos da ONG ORQUESTRANDO A VIDA quando a Dell’Arte, produtora que organiza os maiores eventos de música erudita do Brasil, convidou-os para se apresentarem para o violoncelista Yo-Yo Ma, durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, na última sexta-feira (18). Surgiu, na mesma medida, a ansiedade que caracteriza o encontro uma sumidade, um exemplo a ser seguido. Nascido na França, filho de pais chineses, Ma é considerado um dos maiores expoentes do mundo no instrumento. Porém, tão grandes quanto seu talento com o arco e as cordas, é seu comprometimento social e sua crença no poder transformador da música. Portanto, seus olhos estariam voltados não apenas para a performance executada no anexo do recém-reaberto Theatro Municipal, mas para todo o trabalho que é desenvolvido em Campos dos Goytacazes pela ONG e pelo CENTRO CULTURA MUSICAL DE CAMPOS (CCMC). O fato de a Orquestra Sinfônica Jovem Mariuccia Iacovino, da instituição, ter sido a única do país a receber o privilégio de estar e conversar com Ma, aumentou ainda mais a ansiedade. Afinal, oportunidade que não se desperdiça, todos desejavam que tudo fosse perfeito. E foi.
– O clima, desde que recebemos o convite para o encontro com Yo-Yo Ma, vinha sendo de tensão e comprometimento, sentimentos que marcaram a necessidade de aprimoramento e a certeza de que estávamos vivenciando uma das maiores oportunidades de nossa existência. Encontrar com uma personalidade famosa do quilate de Ma não é qualquer coisa. Vê-lo tocar, simplesmente, já seria especial. Mas, tocar para ele, era algo acima de todas as expectativas – lembra o diretor artístico da ONG, maestro Luiz Maurício Carneiro.
De fato, pesava, ainda, sobre o grupo, além do nervosismo, o curto espaço de tempo. Segunda atração da série Dell’Arte Concertos Internacionais, Ma os receberia 15 minutos antes de subir ao palco do teatro, onde tocaria com a pianista Kathryn Stott. Porém, as circunstâncias não os intimidaram. O desejo de colher um pouco da experiência do violoncelista, e a vontade de mostrar que a música brota do coração, esteja ele onde estiver, levaram maestros, diretores e músicos ao Rio de Janeiro, onde estavam dispostos a enfrentar quaisquer adversidades.
– Como somos movidos a desafios e não costumamos fugir deles, arregaçamos as mangas e nos colocamos ao trabalho na preparação deste encontro, muitas dúvidas permearam nossos pensamentos, dúvidas no sentido de como seríamos recebidos pelo artista, dúvidas quanto a qualidade do grupo e qual seria a reação dele ao escutar a orquestra tocando, dúvidas do que realmente iria resultar desse encontro.
O receio se dissipou, porém, tão logo foram recebidos. Ainda antes do fim das notas da primeira música, a “Abertura festiva”, de Dmitri Shostakovich, já se sentiam recompensados.
– O artista, que esperávamos encontrar nos assistindo, de repente, estava tocando conosco, sentado na quinta estante dos violoncelos, dividindo a partitura com Rayza Acruche e atuando atento à regência. Após a apresentação, a euforia do artista era incontida, fato que nos deixava muito extasiados com tamanha generosidade. “Prefiro tocar com vocês, que simplesmente assisti-los, vamos tocar outra música, que tal ‘Berimbau?’”, nos disse Ma, enquanto verificava na estante as partituras que ali estavam, pois ele queria mais música e queria tocar mais conosco, isso foi realmente incrível... Um artista daquela qualidade, com um tempo restrito para o início do próprio recital, ainda queria tocar mais e conversar com a orquestra – relembra, emocionado, o maestro Luiz Maurício, que então regia a Orquestra Sinfônica Jovem.
O ânimo do violoncelista era evidente a cada nova canção. Acompanhando os jovens alunos, alguns dos quais em lágrimas, Ma exultava algo que se encontrava muito além de talento e aprendizado: vontade de crescer e sensibilidade, que brotava incansável dos dedos daqueles presentes a cada virada de página das partituras.
Por fim, Ma não apenas respondeu a perguntas dos alunos da ONG ORQUESTRANDO A VIDA e deixou que tocassem e conhecessem seu instrumento, fabricado em Veneza, na Itália, em 1837. E o que era para ter durado 15 minutos, durou mais de uma hora.
– O encontro marcante se encerrou com palavras de encorajamento e com a promessa de estarmos novamente juntos; da próxima vez, porém, no palco, em uma apresentação dele, atuando junto à orquestra, desta vez na qualidade de solista de uma obra de autor brasileiro.
Para além da experiência de troca com uma figura tão proeminente no mundo da música, a oportunidade emocionou a todos.
– Estar com Yo-Yo Ma foi inesquecível para mim e para todos que estiveram presentes. Como violoncelista, sempre tive o Ma como um ícone e referência, de forma que acompanho sua carreira de perto e com grande interesse. Estar com ele, tocar para um dos melhores violoncelistas dos últimos tempos, foi a realização de um sonho. Poder chefiar o naipe em que ele estava tocando e tocar seu violoncelo foi algo único, uma oportunidade que todos os violoncelistas do mundo gostariam de ter – resume o professor Charles Vianna, que ministra aulas do instrumento no CCMC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário